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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mente Fina

Depois que a mulher pariu os dois de uma veizada só não sobrou recurso pra luxo, pra passeio e nem mó de jogar bola. Tempo ficou foi definhado, labuta de lata, marmita, madruga e inté mão calosa de sangue. Patroa deu de atentar por conta de televisão fina, dessas de comprido. Tentei prosear mais ela, mas ela num envergou. Meti em negócio de pagar picado, levar e num pagar, dever pra depois. Gosto disso não mas agradou a casa. Dia desses num trabalhei por conta de clamura, troço dos miolos. Fui é deitar depois que a dona na televisão bateu os beiços pra falar que mulher amadurece antes que o homem.

sábado, 13 de agosto de 2011

Até em concurso de redação, Senador?

Assistindo à TV Senado dia desses, acho que acompanhando alguma votação de lei ou coisa do tipo, deparei-me com um comercial que me deixou com um grilo atrás da orelha, já que falar de pulga em ocasião desta me tornaria minimalista.
Estava sendo anunciado o IV Concurso de Redação do Senado Federal, cujo tema convidaria alunos entre 16 e 19 anos, provenientes de escolas públicas estaduais e do Distrito Federal, a debater o exercício da cidadania. A meu ver, atitude louvável de trazer o cidadão jovem a conhecer, questionar e até mesmo entender os processos democrático e legislativo. Verdadeiro achado em tempos minguados de questionamento se não fosse um dos requisitos; “não conter palavras de origem estrangeira”.
Procurei o site oficial do senado e não encontrei o termo “origem”, havendo a proibição expressa de que “palavras estrangeiras” fossem veiculadas aos textos. De qualquer forma, este requisito já dá pano pra manga. Origem estrangeira é uma questão tão complicada em se tratando de português brasileiro. O que não seria estrangeiro? Nosso idioma descende predominantemente do latim vulgar, possui contribuição do tupi, espanhol, grego, inglês, árabe, etc, como todas as línguas cujos falantes tenham contato com imigrantes.
No próprio site do senado, rapidamente pude ver os termos mídia, blog e downloads (o primeiro aportuguesado e os dois últimos ingleses). Isto o colocaria previamente fora do ar por infringir as próprias normas. Não seria má notícia se pudéssemos mandar pras cucuias o Sarney por ser filho da D.Kyola, pai de Roseana, cujo sobrenome é Murad e por ter sido membro da Academia Brasileira de Letras ao publicar poemas (de péssima qualidade) recheados de termos indígenas.
Ainda curioso, fui dar uma olhada nos nomes e sobrenomes dos nossos atuais senadores e olhem o que achei: Gurgacz, Maggi, Maldaner, Suplicy, Argello, Lindbergh, Raupp, Grazziotin, etc. Ou seja, nossos representantes estão recheados de termos estrangeiros no próprio nome. Isso nos daria legalmente a autoridade de desclassificá-los? Quem nos dera!
Em tempos de globalização, é natural que nosso idioma (como a maioria dos outros) receba influências diversas. Gol, iogurte, sutiã, córner, etc, são apenas alguns exemplos de termos que já foram de outras línguas e hoje fazem parte do português. Não há como impedir que o redator utilize estas palavras, sob pena de prejudicar sua escrita. Logicamente existem excessos. Não vejo porque o termo bacon é muito mais valorizado do que toucinho, mas no caso de mouse, por exemplo, vamos chamar o objeto de quê?
Senhores senadores, não é censurando a escrita de nossos alunos (de maneira arbitrária, inquisitorial e anticientífica) que vamos criar um patriotismo crítico. Não é porque o cara vai escrever “hora do rush” que vai deixar de ser cidadão. Quem sabe se os excelentíssimos senhores começassem a efetivamente criar uma política social de qualidade, que valorizasse sua educação e seus profissionais, que objetivasse a contratação de médicos e juízes suficientes, e que punisse seus próprios atos sectários e corruptíveis não teríamos realmente uma geração de jovens nacionalistas e envolvidos?


sábado, 30 de julho de 2011

Meretrizes

Cresceram juntas Joana e Clara na mesma rua; filhas de pais humildes, frequentaram os anos iniciais na mesma escolinha. Foi quando Clara ganhou bolsa de colégio bom por vencer concurso de dança. Menina linda como ela não podia ficar ali. Não visitou Joana nem quando ela perdeu a mãe, viúva. Clara tinha amiguinha nova, passava na rua indiferente balançando a crina verde e cheia de cheiros. Joana conhecera a vida fácil e tingia a parca beleza com a cosmética do ofício. Depois de adulta, viu Clara casada com um velho rico. Quis cumprimentar o filhinho da Clara, que, azedo, chamou-a de algo estranho. Ficou chateada a Joana até a colega de luta lhe cochichar que meretriz era quem trocava o corpo por bem material. Joana então gargalhou em direção à Clara.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Bucovisquiando

O rádio diz que são horas, denunciam madrugada inacabada e o gosto pobre do seu hálito se despede como quem despede a própria sorte. Vejo o cheiro do seu passo se entrelaçar por entre bares, clemente a outros pares de abusos. Seres como que não seres rifam seu desgosto torpe. São mecenas do abismo. Tapetes sujos, a cozinha em caos etéreo e eu eterno, debatendo-me com minha própria tatuagem.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

do Café

...dizem do café com letras, temperado a requinte, queimando impropérios em seu despoder legítimo, cortês. Café é bebida sóbria, de gente com fome, apetite diferente, desses que não doem no corpo, dor que não se espalha em mente. Café é pra mor de sustento outro, formação de prosa. Café não se lê sem fé, não se sorve sem letra.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Meretrizes

Cresceram juntas Joana e Clara na mesma rua; filhas de pais humildes, frequentaram os anos iniciais na mesma escolinha. Foi quando Clara ganhou bolsa de colégio bom por vencer concurso de dança. Menina linda como ela não podia ficar ali. Não visitou Joana nem quando ela perdeu a mãe, viúva. Clara tinha amiguinha nova, passava na rua indiferente balançando a crina verde e cheia de cheiros. Joana conhecera a vida fácil e tingia a parca beleza com a cosmética do ofício. Depois de adulta, viu Clara casada com um velho rico. Quis cumprimentar o filhinho da Clara, que, azedo, chamou-a de algo estranho. Ficou chateada a Joana até a colega de luta lhe cochichar que meretriz era quem trocava o corpo por bem material. Joana então gargalhou em direção à Clara.

domingo, 19 de junho de 2011

Tire os pés do chão

A letra vaga do axé golpeava como os socos, vão, enumerando-se pela multidão anônima, alheia. Sua boca grisalha clamava por companhia enquando a outra boca ria. Um genocídio existencial tirava os pés do chão e enchia de poeira sua roupa boy. Travestido em sua própria juventude, sentia o gosto de Danone depois dos beijos-relâmpago, beijos-recorde que sumiam como somem os próprios sonhos. Madruga terminando, dia-a-dia clareando, kitinete esperando. O abadá suado não tiraria o sal dos olhos, das rugas.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cabelo Loiro

Vida cigana de caminhoneiro costura rodovia com agulha eremita, saudade vem aos poucos, goteira persistente em balde vazio. Faltavam dois dias para o merecido descanso, rever o moleque e receber o beijo calmo e erótico de esposa ausente. Parei pra passar a noite porque a chuva tinha zangado, o jeito era pousar na pensão de família que vi. Tava todo mendigo, meio molhado e fedido. Sentimento humano a gente percebe de graça; a loira da pensão lavou minha roupa. De certo ficou com dó. Levantei cedinho, bati volante e de noite já tava em casa. Moleque dormindo. A mulher pulou assanhada e me tirou a roupa; do banho ouvi o berro. Cabelo loiro desgraçou minha vida.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Inventor

Quando criança, foi destaque nas feiras de ciências; criou uma lixa eletrônica com fiapos de fiação. Mais tarde ganhou bolsa em faculdade e inventou vassoura automática; uma revolução. Casou-se pela net, proliferou-se nas folgas, criou babá digital, antes de se enriquecer. Hoje está adoecido, morre lentamente nas palavras cruzadas e vê escorrer o tédio via esclerose.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Vulvolatria

Entro pela via na magia e me calo tolo ante a tua magnitude. Teus lábios me encharcam sibilantes em lascívia e o calor do meu corpo te abarca em colo amigo. Vem, vulva, vem me ver e envolver. Com tua língua, minha língua se choca, estala, instala e entala. Um beijo eterno e submerso se reitera sinestésico e anestésico. Viva a vulva, exuberantemente ela, vulva anima. Pelos pêlos denunciam seu contorno na ventania dos lábios. Entorna sua seiva amiga, seiva minha; suga-me, ventana, vulvaniza e vulcaniza-me em teu ventre de concha. Oh, Vênus etérea, alcoolize-me em pecado que te louvo como loucos, te louvo como o Olimpo em frenesi.